Olá!
Este conto foi inspirado na seguinte cena que aconteceu hoje aqui em minha cidade:
Hoje ao ir para o cinema eu estava a pé por causa da chuva que caia aqui em Uberlândia-MG.
Como a chuva era fraca, mas forte o suficiente para me fazer largar a minha bicicleta em casa e usar o transporte público no meu segundo ônibus (com passagem de R$ 2,25 e ainda ter que pegar três coletivos pra chegar ao meu destino sendo que não demora nem 25 minutos. - Ninguém merece.) vejo uma cena inusitada:
A certa altura do percurso, vejo um policial correndo com a sua arma em punho no meio da chuva que caia, tentando compreender o porquê de um homem armado corria pela chuva olhei para a direção em que ele corria.
Para a minha surpresa vi um homem, bem maltrapilho, algemado correndo do policial, então gritei espantado, com a cena que me pareceu cômica:
“Olha o cara algemado correndo da policia!”
Muitos olharam viram e claro riram, imagino se o policial tenha nos ouvido, o meliante fugitivo estava lascado. (E sinceramente não sei por que o policial não atirou nas pernas do fugitivo.)
O Paladino Urbano:
“Estamos aqui com João, que apareceu no noticiário por ter sido refém durante uma tentativa de fuga de um homem que escapou da policia aqui na delegacia próxima ao Campus Umuarama em Uberlândia-MG”
(...)
Quem poderia imaginar que aquele homem aos seus 21 anos, ganharia notoriedade por ter feito algo que quase ninguém faria numa situação de crise:
“Salvar o maior número de vidas que ele consegui-se e sair vivo.”
João é o tipico nerd estudioso, que nas suas horas vagas vai jogar RPG, ler ou assistir algo do tipo Caverna do Dragão ou HollyAvenger, ou então jogos eletrônicos como por exemplo World of Warcraft, recentemente com todos os problemas e erros críticos na sua vida pessoal ele e Mel terminaram um namoro de 2 anos.
Foram dois meses difíceis para esse brasileiro honesto com espírito de bom moço, amante do estilo “paladinesco” de viver, no primeiro mês após a separação eles brigavam muito por telefone, MSN e na comunidade de relacionamentos em que participavam, pois João ainda a ama, mas ela mesma deu um basta a tudo.
Quando ele viu que realmente tudo tinha acabado, ele pensou que só faltava ela o xingar muito no twitter. Mas nada disso aconteceu, o silencio foi maior, foi mais torturante.
“O que é um cavaleiro sem sua dama?”- A pergunta deixava as lentes de seus óculos embaçados, amar demais uma pessoa e não ser o homem certo para tal mulher era como ter uma Claymore cravada no meio do peito e ainda conseguir respirar e viver. E ainda pensar no que o destino quer dizer quando tudo a sua volta o faz lembrar o nome da mulher amada.
“Mel...”
Pesar, tristeza, saudade, se misturam com a raiva do que ele sente de si mesmo no momento, das brigas que tiveram, de não poder deixar ela com a certeza que eles eram feitos um para o outro.
E a cada vez que alguém dizia o nome de uma amiga completo que por coincidência era o nome de sua amada, a dor era exatamente rara e doce como aquele nome:
“Melynna.”
Tomar um sorvete com mel, passar mel em uma torrada não era nada, isso ele superou no terceiro dia, porém achar outra Melynna era demasiado angustiante, mesmo com a grafia diferente, mesmo com o rosto, olhos e formas não serem da sua Mel, era como se Deus o fize-se a amar por 900 anos, mesmo estando longe.
Quais eram os motivos das brigas? Nem ele se lembrava, era como se cada coisa em comum deles vira-se o maior motivo de briga. Em muitos momentos enquanto relembrava sobre eles, João dava a razão para os argumentos de Mel: que ele era o culpado por tudo, que suas coisas eram idiotas e infantis, que seu comportamento era tão infantil quanto idiota.
Porém isso era realmente verdade ou era só a culpa por não ter mais a sua amada por perto que o fazia achar que tudo no mundo era culpa dele? Que por mais que ele fosse um bom moço ele não passava de uma criança, de um idiota que todos podiam passar para traz graças a sua inocência e honestidade? Ou que ele realmente era tudo o ao contrário do que ele gostaria de ser ou falava que era?
Perguntas que sozinho ele não encontrava a resposta, mesmo os seus amigos, zombavam dele por ser tão obcecado com os seus estudos e com as coisas que o faziam rir e sonhar, que o empurravam para ele quem sabe um dia poder ser um escritor famoso ou até mesmo um roterista de revistas das Marvel Comics? E assim João viveu esses dois meses, pensando em largar tudo e se dedicar só aos jogos só ao amor que não lhe abandonaria sem ele saber que o erro fora realmente dele.
Só que o dia de hoje lhe reservou a situação mais inesperada do mundo, algo que ele ou qualquer um poderia descrever com só o coração pode explicar o que ele escolheu fazer.
Naquela tarde chuvosa, de uma garoa fina, mas muito bem vinda para aquela cidade que amargou 110 dias sem cair uma única gota durante o inverno no cerrado João desceu de seu ônibus e ao atravessar a rua ele percebe que a sua querida Mel está esperando um ônibus. De uma sensação relaxada por causa da chuva ele acaba ficando muito tenso.
Eles se cumprimentariam? Ela o ignorará? Enquanto caminhava para o seu destino que era um anfi teatro da Universidade Federal De Uberlândia, ele não poderia simplesmente virar e ir por outro caminho, ou ele a superava e aos seus sentimentos ou eles começariam uma briga ali naquele local, a cada passo seu coração aumentava o ritmo, sua garganta ficou seca, os olhos de João ficam embaçados.
Com o refrão de uma música sertaneja ele finalmente entende a figura de linguagem de que a saudade é um prego e o coração é um martelo. Mel percebeu que ele vinha, mas tão rápido ela o reconheceu seu rosto ficou com uma expressão tão fria quanto ao mármore então João passa por ela, sem sequer esboçar uma palavra, ela nem o acompanhou com o olhar, disso ele teve certeza, pois virou a cabeça tão rápida, para vê-la que com toda a certeza ele poderia ter notado se ela olhou para ele,
A tensão deixou João fora de órbita ele sequer viu ou ouviu o ônibus que vinha para aquele ponto chegar e como tinha virado para ver o desembarque e o embarque das pessoas naquele ponto de ônibus não conseguiu evitar o safanão que levou fazendo-o cair no chão, ao sentir a dor da queda pragueja contra aquele que o fez parecer ridículo na frente de todos, porém um grito fez o seu coração acelerado congelar de medo.
“-Ninguém tenta nada ou a loirinha vai levar chumbo!”
Um homem maltrapilho, desesperado, algemado nos pulsos e com uma arma semi-automática, fez Mel de refém, as pessoas se acotovelaram para sair de perto o ônibus partira em meio aquela confusão, só João ficou ali, com os joelhos tremendo o coração na boca e a alma fora do corpo.
“O que você ta fazendo ai Mané?”- o sequestrador gritava com João. - “Não cola aqui ou eu mato você e ela!”
“MEL”.- A alma de João gritou por ela, mas da boca de João não saiu nada.
Melynna aos seus dezoito anos, nunca tinha presenciado nada daquele tipo ainda mais em Uberlândia que tinha um índice de violência até controlada, mas ela que nunca soube um amigo dela ou de quem ela conheceu não teve de servir de refém para alguém. Mas o que deixava aquela cena mais assustadora para ela era ver o medo estampado na cara de João, o medo que ela sempre vira quando eles discutiam a falta de confiança dele nela ou mesmo nele mesmo, resumindo tudo, para ela João era a encarnação da fraqueza e do medo em um ser humano, um verdadeiro amarelão. E que naquele momento ele iria explodir com o seu coração de “Romeu apaixonado” e fazer a maior burrice do mundo e piorar as tudo para ela.
João que já tinha perdido tudo o que ele mais acreditava no amor, não sabia realmente que ali naquela hora ele estava de frente para a real perda de esperança. Se algo desse errado como algumas vezes foram noticiados, que por um erro, por despreparo de um policial ou acidente o refém poderia ser gravemente ferido ou mesmo morto. E assim seu lado “paladinesco” entra em ação:
“Cara escute. Vamos fazer uma troca você solta ela e eu fico no lugar dela.’’- Sua voz tremeu o tempo todo.
Mel e seu opressor ouviram e não acreditaram, enquanto ela olhou quase chorando para o louco e sua loucura o homem riu e disse indignado:
“Tu ta tirando onda com a minha cara?”
“Não. Só não quero saber que uma mulher poderá sair ferida disso e eu não fiz nada para mudar.”- Agora a voz de João tremeu menos.
“Mano, tu fumou o que? Quer ficar no lugar da boneca pra troco de que? E por que eu trocaria essa loirinha cheirosa por um cueca?”- e então com certa dificuldade o homem aponta a arma para João.
“Simples eu sou da sua altura, não vou entrar em pânico como ela esta, e te dou a minha palavra que servirei de escudo humano para você.”- Desta vez João olhou firme para o homem desesperado a sua frente, mesmo ainda tremendo ao falar.
“HAHA, você acha que é gala de filme seu playba?.- o sequestrador volta apontar a arma para o rosto de Mel e fica um pouco abaixado atrás dela .
“Não eu me acho feio pra caramba.”- era isso que Mel não gostava em João essa falta de amor próprio, esse comportamento “pseudo-honesto”. E a capacidade de falar coisas que são as mais idiotas possíveis em uma situação de tensão. - “Eu não estou mentindo quanto a me deixar a ser seu escudo.”
“Hey guria você já viu um cara mais Zé-mané que ele?”- a respiração daquele homem assustava mais que a arma no seu rosto, Mel ficou com nojo dele e pelo poder que ele estava exercendo contra ela que sempre ficou acostumada em ser o centro das atenções, em que ter sua opnião aceita, nunca ter sido tratada como um objeto como, gado que enquanto é útil não é levado para o abatedouro. Mas ali naquela hora ela era o animal, e ver o João falar aquelas coisas absurdas para protege-la a fez ficar mais e mais frustrada.
“Olha a minha idéia “mano”, sou maior, sou míope e não vou reagir, vou poder te proteger assim como quero proteger essa garota.”- Nesse momento João virou-se lentamente e de costas para os dois continuou a falar.
“A policia deve estar chegando deixe-a ir pela direita eu fico com você, vou tentar fazer com que eles não te maltratem. Vou por minha mochila no chão e assim que eu colocar o meu óculos em cima dela você solta ela e me faz e refém”
“Velho eu não vou fazer isso. Eu não sou idiota e essa arma tem muita bala.”- novamente o fugitivo aponta a arma para João.
“Sei disso também, essa arma é padrão agora, mas um homem com um rifle de precisão pode te matar e você nem vai ver, ou mesmo em um confronto você não vai levar muitos “gambé” pra cova porque sua refém não vai te dar toda a cobertura que você precisa.”
Mel sabia que por algum maldito motivo João estava certo, armas de longo alcance fariam todo o trabalho, mas o que ele não contou era com o erro humano, que ela poderia morrer, se no caso dela um erro infeliz fosse cometido assim como em tantos casos tristes por este país.
“Então, vou contar até três, daí irei por o meu óculos em cima da mochila e você solta ela.”- A decisão no seu plano sem pé e cabeça foi como apostar roleta-russa.”
Um.
Dois.
Três.
Mel grita e parece ter sido jogada para o chão, com um forte safanão o fugitivo, faz João de refém e diferente da garota ele ficou calmo e deixou ser posto como um escudo, o momento foi quando o primeiro policial chegou gritando voz de prisão.
E então eles ouvem o grito de Mel:
“Seu porco idiota!”- e ela sai correndo para o outro lado da rua e some dos olhares dos dois, graças a uma multidão que foi em seu amparo.
O policial gritava no radio e para os dois homens a sua frente e então João grita:
“Se afastem daqui! Deixem-no respirar! Esta tudo bem eu concordei com isso!”- nisso policial, seqüestrador e a platéia ficam pasmos com a velocidade das palavras.
“O garoto tem culhões!”- As palavras gritadas pelo seqüestrador deixaram João mais certo do que tinha escolhido o melhor.
O policial se afastou com a arma guardada no coldre e usando o radio a todo o momento e nesse momento o bandido sussura.
“Você é mais louco do que eu, fazendo aquilo por uma desconhecida”. “Mas acho que ela não me xingou e sim a você rapaz.”
“Sinceramente eu não sei.”
“Agora vai mentir muleque?”- o homem ri, sua risada é carregada. “Eu escolhi você como o meu refém, mas não deu para te prender daí peguei a primeira que vi não esperava que você fica-se, mas como você estava com a cabeça virada para traz e ainda ficou para defender aquela doida, logo percebi que tu ta afinzão dela”.
“Na verdade ela me lembrou alguém que eu amei há tempos.”- A voz de João ficou triste.
“Só por isso?”- o homem ficou surpreso.
“Sim e não”. Mas como estamos agora mais íntimos queria saber o seu nome, eu me chamo João”.
O fugitivo ri alto e então diz o seu nome: “Pode me chamar Jesus, acho que você já esta rezando para mim e esta hora.”
Desta vez quem riu foi João, -“Então quer dizer que só falta àquela menina ser a Maria e o policial o José?”
Com a honestidade no comentário e até mesmo a ironia do destino ambos começam a rir.
“Moleque você é ótimo! Aposto que tem um monte de garotinha te dando bola, ainda mais com você sendo esperto.”
“Mulher não gosta de homem bonzinho demais. E no meu caso eu sou muito bobo. Para os espertos eu nem teria feito o que fiz agora.”
“A verdade José é que para as mulheres nenhum homem presta...”
“Solta o seu refém Mão-branca!”- Os reforços chegaram e a mídia também, dois canais de televisão e ao que parece dois de radio.
“Mas nem f*&¨%$$! Eu e o José aqui estamos ficando bem íntimos agora! Tamos nos entendendo numa boa!” - e aponta a arma para o rosto do seu refém.
Então as negociações começaram e com a presença dos jornalistas todos ficaram ainda mais tensos. Naquele momento era só vencer o seqüestrador por cansaço e sede, mas claro que uma boa conversa com promessas de segurança para ambos os lados faziam as negociações correrem lentas pela aquela tarde.
Naquela hora os pais do jovem envolvido, estavam desesperados por verem seu filho mais novo servindo de escudo humano para um marginal de rua. Mas o que toda aquelas câmeras e microfones não captavam era a conversa entre o refém e seu captor, o assunto?
Mulheres.
João não falou nada da Mel ou se referia a loirinha como a criadora das chagas no seu coração, porém Jesus contou que foi enganado por uma e assim matou os pais dela para poder os dois ficarem com a grana, como a menina era bem afortunada ele foi para a cadeia, depois fugiu e então foi preso em Uberlândia por porte ilegal de armas.
E então veio a cede Jesus pedia por água para os dois e João reafirmava que se a policia não colabora-se ia só prejudicar a vida de um jovem. A polícia só queria entregar a água para Jesus se ele se rende-se nisso foi a vez de João deixar todo mundo ali presente assustado:
“Se alguém tentar me salvar eu dou um jeito da arma dele disparar e se um policial chegar perto demais eu chuto as bolas dele!”
“Moleque você é doido?”- Gritou o policial que era responsável pela negociação.
“Eu já perdi tudo por minha causa, perder a minha vida não vai fazer diferença, eu só quero que ele tenha um julgamento justo!”
Agora Jesus ficou mais uma vez por entender o comportamento do jovem, porque ele queria justiça para um assassino como ele, que só deu azar da filhinha de papai que ele namorou e ajudou a matar os próprios pais dela tinha outros a protegendo e interessados naquela grana.
“Garoto...”- Jesus não sabia mais o que fazer ou falar, então para terminar tudo. – Você faz parecer que o certo é o mais fácil a se fazer.”
“Nunca é fácil fazer o certo. Porém não custa nada tentar. Assim como eu consegui salvar aquela mulher eu consegui fazer com que os policiais não atirassem na gente.”
“Você é louco! Mas é gente fina João.”
“E você Jesus, por mais que o sistema diga que não eu acredito que você é capaz de fazer o certo mais uma vez.”
“Você acredita em Deus garoto ou nessas baboseiras que dizem por ai?”
“Acredito mas é de um jeito bem particular demoraria muito para te explicar e com a garganta seca eu não vou conseguir.”
“Então vá beber água e depois quando puder você me conta.”
“O quê?”- Agora que não acreditava na atitude impensada foi João ao ser solto por Jesus.
Os policiais que vigiavam os dois,ficaram por entender do porque da soltura do jovem e com o comportamento de rendição de Jesus, que após soltar o seu refém deitou-se no chão para que a policia vi-se suas mãos algemadas e ele arremessando a arma para longe.
Enquanto todos os policiais tratavam Jesus como um saco de arroz outro grupo foi em socorro do jovem abatido lhe dando água e o afastando das câmeras.
As horas se passaram, João teve que fazer exame de corpo de delito, prestar depoimento, fazer acareação, acalmar os seus pais e claro procurar pelo policial que chegou primeiro no local de toda aquela bagunça e descobrir que o nome do cabo era José Maria.
Porém quem ele mais queria por perto, quem ele lutou com a própria vida para proteger, não estava lá e segundo os seus pais nem ficou muito tempo na delegacia enquanto ele foi para o hospital.
“Com licença eu sou Joaquim Neto e represento uma TV da cidade eu gostaria de saber se você poderia nos conceder uma entrevista.”
“Claro!- João queria realmente falar para todo mundo o que ele passou e o que ele fez pelo que ele lutou.
(...)
“Estamos aqui com João, que apareceu no noticiário por ter sido refém durante uma tentativa de fuga de um homem que escapou da policia aqui na delegacia próxima ao Campus Umuarama em Uberlândia-MG. João como você se descreve neste momento?”
“Eu me sinto como um cavalheiro medieval, praticamente um Paladino Urbano.”