terça-feira, 7 de setembro de 2010

Conto: Cavaleiros da Supremacia

Olá pessoal!
Como prometido ( para desespero de muitos) começo dar sequencia a série de contos sobre SC. Estes contos foram originalmente feitos para o concurso de redação que a Blizzard promoveu durante o lançamento do Starcraft 2.

Autor: Estevan Andrade
Nome na Battlenet de Starcraft: Khas

Conto: Cavaleiros da Supremacia


Cavaleiros da Supremacia

Quando olhamos para um cartaz, vídeos holográficos, ou qualquer outro tipo de mídia, com imagens de soldados da supremacia, o que enxergamos?
Enxergamos cavaleiros em armaduras reluzentes, iguais aos nossos ancestrais durante a idade média na Terra, homens vestidos em armaduras, empunhando espadas e escudos para defender seu reino, porém os soldados da supremacia são homens e mulheres equipados com trajes de alta tecnologia, empunhando rifles, prontos para nos defender e, em muitas ocasiões, morrerem por nós.
Os nossos homens e mulheres, em armaduras reluzentes, nos protegem das ameaças zerg, protoss e, também, de rebeldes terranos que tentam desestabilizar a nossa supremacia.
É por isso que nós temos a obrigação de... (infelizmente, neste momento, me desconcentro na elaboração do meu discurso, por causa da abrupta interrupção do indivíduo que entra em minha sala). Seu nome é Ramires. Ele está ofegante, pronuncia algumas palavras tão rapidamente que não consigo compreendê-las.

“- Ramires, relaxe, respire fundo e me diga o que está acontecendo!

- Os rebeldes estão atacando a colônia! 

- Rebeldes aqui?

- A supremacia deu ordem para evacuação, um soldado vai nos escoltar.

- Pelo menos não são zerg querendo-nos devorar ou uma frota de naves protoss na órbita do nosso planeta, querendo nos fritar!

- Rápido, senhor! Pegue suas coisas e vamos sair daqui antes que... ”

Pobre Ramires. Nem teve chance de terminar a frase. A guerra chegou a nossa colônia e já ceifou o meu estagiário! Eu gostava dele, era um homem responsável e honesto, mas uma explosão, perto de nosso prédio, provocou o desabamento do teto, soterrando-nos. A sorte estava ao meu lado, nesse dia; alguns tijolos caíram em cima de mim, tive alguns arranhões, mas Ramires foi atingido por uma viga de “neosteel” na cabeça. Ele não teve chance.
Logo em seguida, um soldado apareceu à porta. A armadura desse soldado, em particular, não era tão reluzente; estava gasta, tinha adesivos e pinturas personalizadas: na ombreira esquerda, uma mulher semi-nua; na direita, o brasão da supremacia. A viseira do capacete estava abaixada, e pintada com a face de um tigre. Eu estava atordoado pelos destroços que me atingiram e tentando assimilar o que estava acontecendo. A aparição do soldado não se assemelhava a um cavaleiro em armadura reluzente, mas uma fera: metade homem, metade tigre, em uma armadura gasta e manchada de sangue vermelho. Isso significa que o inimigo, dessa vez, era humano e não, alienígenas zergs ou protoss, mas terranos como eu. Mas isso não parecia fazer diferença para a fera em armadura na minha frente.
Os tiros, gritos e explosões ecoavam na minha cabeça. Fixei minha mente na figura do soldado, na minha frente, tentando concentrar-me, apenas, numa situação, na tentativa de analisar a melhor estratégia para sobreviver a esse pesadelo, mas eu não conseguia tirar meus olhos de Ramires. Talvez eu não estivesse pronto para os horrores e glórias da guerra.
Senti uma mão forte agarrar meu braço: era o soldado. Acredito que, quando dentro de em uma armadura de combate, o soldado perde a noção de sua força, já que essas armaduras, não tão mais reluzentes para mim, são projetadas para intensificar a força de seu usuário. Se eu não tivesse gritado de dor, acho que o soldado nem teria percebido e quebrado meu braço.

“- Senhor, nós temos que ir!

- Mas e Ramires? Não podemos deixá-lo aqui!

- Senhor, ele está morto!”

Não fiz objeções em reclamar pelo corpo de Ramires, apenas aceitei as palavras do soldado e o acompanhei para fora do prédio. A colônia estava sob forte ataque. Provavelmente de um grupo separatista rebelde. Acompanhei o soldado tigre até a praça central da colônia. Estranho usar, como referência, um animal que habitou ou ainda habita o planeta Terra, para me referir a esse soldado, mas depois que vi o restante dos soldados que faziam parte do esquadrão, tive que apelidá-los de soldado dragão, macaco, porco e serpente, pois todos estavam usando armaduras gastas com detalhes personalizados, assim como o tigre e, em suas viseiras, as estampas da face dos respectivos animais citados. Eu não conseguia ouvir tudo o que eles falavam, já que, provavelmente, estavam usando um canal de comunicação interno do esquadrão. Só ouvíamos as vozes dos soldados, quando estes se dirigiam para nos dar ordens.
Aparentemente o líder do esquadrão parecia ser o soldado dragão. Algumas vezes, podíamos ouvi-lo gritando com seus subordinados. Os civis, que não foram mortos durante o ataque, estavam sendo reunidos como gado, na praça central da colônia. Perguntei ao soldado tigre qual era o plano de evacuação. Ele me encarou. Pelo menos eu acho que estava me encarando, já que não era possível enxergar quem estava por trás da viseira com a pintura do feroz tigre. Para minha surpresa, o soldado levantou a viseira e falou comigo com uma voz feminina:
“- Senhor, temos ordens para reunir os sobreviventes em um local de fácil acesso para as naves de transporte.”

Sabendo agora, que o meu interlocutor era uma mulher, vou-me referir a ela como amazona tigresa. Após responder minha pergunta, ela abaixou a viseira e se transformou novamente em fera. Estranho como, aos poucos, não estou mais me referindo a esses ícones da supremacia como cavaleiros de armaduras reluzentes, de acordo com a campanha de propaganda da supremacia.

Algumas horas se passaram e parecia que o ataque havia cessado. Fomos avisados de que o resgate iria atrasar e, por isso, recebemos ordens para nos deslocarmos para um abrigo que havia sido construído, durante a guerra anterior, no caso de um ataque zerg ou protoss. Felizmente, naquela época, a guerra não chegou à nossa colônia, mas o destino gosta de pregar peças.
Parecia que um minuto se transformava em uma hora, uma hora em um mês, um mês em um ano. E o tempo não passava. Éramos  algumas dezenas de civis e os cinco soldados feras da supremacia. Desculpe-me, mas não posso mais me referir à esses soldados como cavaleiros de armaduras reluzentes. Para tentar me distrair e esquecer o tempo, aproximei-me da amazona tigresa, para conversar. Ao chegar perto, ela levantou a viseira.

“- Senhor, por favor, fique com os outros civis.

- Calma eu só quero conversar.

- Senhor, estou de guarda, não posso me distrair.

- Calma, estamos em um abrigo militar subterrâneo, a única porta de acesso está lacrada. Se alguma coisa ou alguém tentar invadir, seremos todos alertados. ”

Nesse momento me veio o seguinte pensamento: se essa coisa ou alguém decidir que nossas vidas não valem nada, não hesitarão em destruir o abrigo e nos matar soterrados.

"- Você tem razão, acho que conversar um pouco não vai matar ninguém.

- Por que você pintou um tigre na viseira do seu elmo, você gosta de se referir a si mesma como amazona tigresa?

- Isso foi uma cantada?"

- Não! Só estou curioso; é que eu sou advogado, e antes desse pesadelo começar, eu estava escrevendo um discurso referindo-me a vocês cavaleiros de armaduras reluzentes.

- Cavaleiros de armadura reluzente? Isso foi outra cantada?
- Não, claro que não! Essa é uma expressão comum. ”

Os lábios da amazona começaram a se retorcer na tentativa de segurar as risadas.

"- Só estou tirando com sua cara. Eu sei que isso não foi uma cantada; sei que é uma expressão utilizada pela propaganda militar da supremacia para se referir a nós, soldados.”

Fiquei alguns segundos em silêncio, mas não precisei falar nada, já que a própria amazona continuou a conversação:

" - Você disse que estava escrevendo um discurso sobre nós?

- É que, recentemente, estou trabalhando em um caso em que o acusado, provavelmente, será ressocializado.

- O quê o safado fez?

- Ele é acusado de homicídio.

- E por isso você se referia a nós, no discurso, na tentativa de comover o juiz?

- Correto. Ele é de uma família importante e, provavelmente, terá o suporte dos melhores advogados. Preciso estar preparado. "
 
Ficamos um tempo, em silêncio, até que eu continuasse fazendo uma pergunta desagradável.

“ - Eu sei que não deveria perguntar isso e, talvez se você não souber responder ou me responder com palavras vagas, vou supor que a resposta seja sim.

- Manda! Qual é a pergunta?

- Você foi ressocializada?

- Não! Eu não passei pelo processo de ressocialização meu cérebro continua sendo meu, pelo menos, eu acho. Essa resposta convenceu você?

- Parcialmente. ”

Depois de minha resposta, nós dois tentamos segurar nossas risadas, contorcendo nossos lábios, já que este não era um momento oportuno para tais privilégios.

" - Alguém do seu esquadrão foi ressocializado?

- Eu acho que o soldado serpente, mas não tenho certeza. “
Olhei para o soldado serpente, tentando enxergar um cavaleiro de armadura reluzente, mas somente a suposição de que, por baixo daquela armadura se escondia um criminoso que foi ressocializado, através de técnicas de lavagem cerebral para lutar pela supremacia. Minha crença nos cavaleiros da supremacia começou a ser abalada.
Talvez seja melhor eu mudar o tema principal do meu discurso. Meus pensamentos são interrompidos pela amazona.

"- Mas posso garantir que os outros membros do esquadrão não são ressoc assim como eu.

- E o líder do esquadrão?

- O soldado dragão ele é veterano de guerra, já luto em várias batalhas, viu amigos morrerem e injustiças serem cometidas. “

Encarei o respectivo, soldado, por alguns segundos, sem ao menos, saber se ele estava olhando para mim, já que a viseira do capacete estava abaixada. Para o meu azar, ele também estava me encarando. Levantou-se e veio em nossa direção:

" - Eu estava observando vocês dois faz algum tempo. Sobre o que estão conversando?

- Senhor o civil só estava curioso. "
Nesse momento, o soldado levantou a viseira. A amazona tinha razão: Ele era, mesmo, um veterano de guerra, com várias cicatrizes no rosto, olhar profundo, uma voz grossa que impunha respeito aos aliados e medo no coração dos inimigos.

“– Tigre, você já imaginou que o nosso civil aqui pode ser um espião dos rebeldes?

- Senhor, eu não acredito nisso.

- E que você, na sua inocência, pode estar passando informações importantes sobre a supremacia?

- Mas, Senhor...

- Tigre, você está dispensada, eu vou conversar com o nosso amigo, agora.

- Senhor, sim senhor. “

Sem questionar, a amazona tigresa abaixou a viseira do capacete e se retirou. O homem, na minha frente, não se parecia, nada, com um cavaleiro em armadura reluzente. Maldita propaganda militar! É por isso que odeio publicitários.

O dragão me encarou e falou:
“ – Senhor, qual é o seu nome?

- Meu nome é... “

Ele nem deixou terminar minha frase e disse:

“- Seu nome é mentira! Eu não confio em vocês, civis. Nossa missão é protegê-los, mas não confiar em vocês.

- Desculpe-me, deve ter ocorrido um engano. Eu não sou espião. Confira aqui, minha identidade. ”

Antes que eu pudesse colocar minha mão no bolso, para retirar o documento, o soldado dragão abaixou a viseira, apontou seu rifle na minha cabeça e disse:

“- Nem mais um movimento, tire sua mão do bolso devagar!”

Os soldados serpente e macaco também apontaram seus rifles na minha direção.

“- O quê? Calma você acha que eu tenho uma arma no bolso?"

Todos estavam apreensivos: Soldados e civis. Não se ouvia mais nenhum barulho no abrigo. Todos esperando para ver o desfecho desse infeliz acontecimento. Eu acho que alguns queriam ver minha massa encefálica esmagada no chão. Outros fecharam os olhos e começaram a rezar. Meu único apoio foi o soldado tigre.

“- Senhor isso é loucura!

- Já que você é amiguinha dele, eu vou pedir que ele coloque as mãos na cabeça e se deite no chão. Você, soldado tigre, pegue o suposto documento no bolso dele. ”
A amazona olhou para mim e pediu que eu fizesse o que me foi ordenado. Sem questionar, executei a ordem. Ela retirou o documento entregou para o soldado dragão que, só abaixou o rifle, para conferir o documento, depois de ter dado a ordem aos soldados serpente e macaco, para abrir fogo, caso eu tentasse alguma gracinha.

Ele conferiu, cuidadosamente, o documento, passou um scanner para checar a autenticidade do mesmo e, após alguns segundos de silêncio, ele deu a ordem:

“- Soldados, descansar. Aparentemente, o amiguinho do tigre é um legítimo civil dessa colônia.”

Os dois cavaleiros em armaduras reluzentes, (para o inferno com essa expressão.) abaixaram suas armas e retornaram aos seus postos como dois cãezinhos treinados. Ás vezes eu acho que os marqueteiros da supremacia se basearam em um vídeo em que Jim Raynor, líder de uma facção rebelde, aparece vestido em sua armadura de combate sem capacete e, ao fundo, as luzes de um cruzador são refletidas no traje de combate de Raynor. A posição da câmera, que capturou esse momento de rara aparição do líder rebelde, faz com que Raynor se assemelhe a um cavaleiro em armadura reluzente.
O dragão se virou para o tigre e disse:

“- Ele é responsabilidade sua! Se esse infeliz prejudicar nossa missão, a culpa será sua.
- Sim senhor.

Tentei agradecer a amazona, mas ela apenas abaixo a viseira e disse:

“- Apenas fique quieto e tudo ficará bem.”

De novo um minuto se transformou em uma hora, uma hora em um mês, um mês em um ano e o tempo não passava, até que o soldado porco falou:

“- Senhor, recebemos comunicação de que uma nave transporte está vindo-nos resgatar.

- Ótimo! Então vamos nos preparar!

- Mas senhor, existe um problema.

- Diga logo!

- Os rebeldes pararam o ataque porque tiveram que fugir por causa de uma ameaça maior. “

Se pudesse cuspir fogo, ele teria feito isso, mas, ao invés disso, o soldado dragão soltou um longo suspiro e murmurou:

“- Já sei zergs e protoss.

- Informaram-nos que enquanto os zerg e protoss estiverem próximos da colônia, as naves não se aproximarão. Nós teremos que ir até as naves. “

- Vão enviar reforços?

- Não, senhor, nós somos os reforços.

- Senhor, quais são suas ordens? “

A conversação foi interrompida por um som agudo e estridente, algo que eu nunca havia escutado antes.

“- Tarde demais! O enxame já está aqui.”

Sons de garras, grunhidos e ácido corrosivo se misturaram, formando uma sinfonia de terror. O enxame zerg estava sobre nós. Alguns momentos depois, começamos a ouvir sons de lasers, explosões e gritos de guerra como: "Entaro Adun", "Por Aiur" e outros ecoavam em nossas mentes. Essa era a contribuição dos protoss na composição da sinfonia da guerra e, em breve, nossos destinos seriam selados ou nas terríveis garras dos zergs, ou nas espadas de energia dos protoss. 

Mas, nesse momento, em que todos deveriam entrar em pânico, o soldado dragão levantou a viseira e, com determinação, ordenou:

“- Ninguém sai do abrigo! Façam uma barricada na entrada com tudo que encontrarem. Se os desgraçados invadirem, eles vão sentir a fúria da supremacia.

Civis e soldados juntos começaram a improvisar uma barricada com tudo que tinha dentro do abrigo: suprimentos, equipamentos médicos, todos o itens que eram essenciais para a sobrevivência de um cerco prolongado.

Civis e soldados juntos começaram a improvisar uma barricada com tudo que tinha dentro do abrigo: suprimentos, equipamentos médicos, todos o itens que eram essenciais para a sobrevivência de um cerco prolongado.

Depois de erguemos a barricada improvisada, a guerra nos atingiu com toda sua glória e horror. O pesadelo do enxame zerg invadiu o abrigo. Garras, dentes, projéteis ácidos e em forma de lanças atingiram a rudimentar barricada. Alguns civis, os soldados macaco e serpente também foram ceifados pela guerra. Os soldados porco, tigre, dragão e os restante de nós, os civis, recuamos na tentativa de escapar do primeiro ataque, mas era inútil; pois estávamos presos em um abrigo subterrâneo; não tinha para onde fugirmos.
Mesmo assim, os soldados continuavam a alvejar os zergs com seus rifles. Nesse momento, a luz do sol, que entrava pela abertura improvisada pelos invasores zergs, realmente fazia com que a amazona tigresa, em sua armadura, empunhando o rifle, se assemelhasse com um cavaleiro em armadura reluzente.

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